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quinta-feira, dezembro 19, 2013

O Mineiro e a Palavra Uai!


UAI quer dizer tudo, quer dizer nada, é imparcial, atemporal. É afirmativo e negativo. É exclamativo e interrogativo. Às vezes dizemos UAI para não passar por bobos ou desinformados: "Uai, é mesmo?".

Fiquei conhecendo os textos abaixo, meio que por acaso. Pesquisando por uma frase específica, deparei com essa bela explicação:

         Uai 
        por Andre Catuaba
Acabei de procurar no Houaiss o significado da riquíssima expressão "uai" e vi que ela não existe no léxico formal da língua portuguesa. Vou tentar uma aproximação: Uai significa algo como a manifestação da banalidade da existência e da insignificância do ser humano diante da vastidão do universo. Exemplo: "Parece que vai chover." "Uai, nessa época..." o que vale dizer: "Não adianta chorar, a chuva vai molhar e é bom ir procurando um guarda chuva." Ou então: "Onde você estava ontem?" "Uai, tava no boteco bebendo." Uai, nesse caso, revela a obviedade da resposta. Ela é tão clara, tão límpida e cristalina, que necessita desse neologismo caipira para reafirmar seu conteúdo: "É lógico que eu estava no boteco bebendo. Onde mais estaria? Afinal de contas sou um alcoolatra." Uai pode ser usado em vários contextos, mas é como manifestação do óbvio latente e escancarado quer exprime seu mais profundo significado. E exprime também uma espécie de consciência anterior a algum tipo de revelação - até mesmo metafísica. Se deus se revelasse para o matuto em todo o seu esplendor ele apenas responderia: "Uai, eu já sabia." É tipo de expressão que Alberto Caeiro - o heterônimo de Pessoa que despreza complexas estrtuturas filosóficas em prol de uma natureza limpa e crua, cortada por árvores, montanhas e flores, gostaria. E além disso, por ser formada exclusivamente por três vogais, a expressão é bastante musical e agradável aos ouvidos. É estranho que até hoje não se tenha composto uma música popular cujo refrão fosse composto de uais. Algo do tipo: "Uai, meu amor, pra onde você vai? Ai, ai, ai..." Ué é a variante urbana do uai rural. Significa mais ou menos a mesma coisa. Agora, se me perguntarem porque uso o neologismo urbanizado e não sua matriz rural, respondo simplesmente: "Ué, porque é mais curto."
Aproveitando  minha pesquisa, incluo também outro texto do mesmo autor, bem apropriado para complementar nossa mineiridade:

       Ô Trem!...
          por André Catuaba
É ótimo que o texto que escrevi sobre a expressão mineira "uai" continue gerando comentários. Foi sugerido, inclusive, que eu escrevesse um texto sobre a também atemporal e enigmática expressão "trem." Não está no ótimo site sobre o mineirês, mas desconfio que "trem", para o mineiro, é tudo menos uma "série de carros e vagões engatados entre si e movidos por uma locomotiva" (Houassis). Basicamente o "trem" mineiro é uma junção gramatico-cultural da "coisa" com o "troço" e o "algo". Pode ser positivo "Trem bom, uai", negativo "Ô trem lascado da peste" ou contemplativo: "É, trem..." É possível inseri-lo em qualquer proposição sem o risco de sub-entendidos, pois o "trem" mineiro é um conceito tão amplo, tão metafísico, que supera qualquer contradição que porventura esteja na frase. Se os alemães inventaram Zeitgeist para expressar o espírito do tempo, a mentalidade de uma época, a consciência histórica das gerações que se sucedem, os mineiros nos legaram o "trem", essa fortaleza conceitual que não quer dizer nada. Ou, bem ao estilo diplomático da terra: "Não sou contra nem a favor, muito pelo contrário."